“Por que você está fazendo o Caminho de Santiago?” Esta é umas das perguntas típicas que os peregrinos se fazem nas conversas. A pergunta que se esconde por trás dela seria: “Que loucura você tem para caminhar 800 kms?!” Pois te digo a minha loucura. Alías, não é só uma, mas três.
Primeiro, buscava o autoconhecimento. Não, não esperava um raio de luz celestial caindo sobre minha cabeça a me desvendar os mistérios da vida. Por incrível que pareça, a verdade é que o próprio ato de caminhar é o aprendizado. Se age no caminho da mesma forma que se age na vida cotidiana. A diferença é que no caminho os efeitos surgem com muito mais rapidez e assim tenho mais claro os erros e acertos que cometo no dia-a-dia. Por exemplo, se carrego mais peso do que meu corpo agüenta, logo surgem bolhas nos pés. Ou se caminho forçando o lado esquerdo, logo surgirão dores no lado direito. Ou ainda, para dar um exemplo bem meu, se não se foca no presente e está sempre ansioso com algo que não seja apenas o presente, se esquecerá de algo pelo caminho e isso trará dores de cabeça para reaver a coisa de volta. É como se o caminho fosse uma grande metáfora da vida. Um curso intensivo de 30 dias sobre a arte de bem viver. De viver sem bolhas nos pés, se é que me entende.
Segundo, eu adoro viajar. Pensando bem, não é exatamente a viagem em si, mas a sensação de estar totalmente livre é o que mais me atrai. E o Caminho de Santiago, como uma espécie de mochilão a pé me permite exatamente isso. Meus horários e destinos são flexíveis, me permitindo decidir de última hora, de acordo com a maré. Tem-se o ponto de chegada que é Santiago de Compostela, mas durante o percurso é possível testar caminhos alternativos aos que normalmente os guidebooks dizem ser os tradicionais, dormir em cidades que não sejam as mais turísticas, caminhar em grupo ou sozinho. E a infraestrutura é enorme, com muitos albergues e restaurantes durante o trajeto. Liberdade. É o que sente quem se atreve a atravessar a Espanha de leste a oeste.
E terceiro e último, gosto de me exercitar. Digo isto porque caminhar longas distâncias não é para qualquer um. E não falo sobre idade, pois grande parte dos que caminharam comigo eram na maioria aposentados. Falo sobre o fator psicológico, o de gostar de esporte, de não pirar caminhando 7 ou 8 horas ao dia. Tem gente que prefere meditar sentado em posição de lótus dizendo "OMMM" por horas a fio. Outros preferem viajar confortavelmente de ônibus ou carro. Eu já gosto da idéia de me mexer, de me movimentar, de sentir o sol na cara, de chegar suado e cansado no albergue e, como recompensa, tomar uma bela ducha de água quente para limpar e relaxar meu corpo ao final do dia.
Estou preparando uns vídeos onde conto um pouco sobre cada etapa da caminhada. Abaixo preparei o vídeo do 20º dia, saindo de León até Hospital de Órbigo. Um preview do que virá a ser.
segunda-feira, junho 06, 2011
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