domingo, outubro 31, 2010

A Casa de Deus



Mais um capítulo da saga: XVI - A Torre. Aí vai um trecho do texto e o vídeo que representa este arcano:




"A torre é o lar que protege nosso mundo interior. É a casa que abriga o homem das intempéries da natureza. É o carro que nos conduz com segurança ao destino. É a família e os amigos, que nos ajudam durante a caminhada da vida. É o emprego que nos dá a chance de testar nossas capacidades e fornece o suporte financeiro para os gastos do dia-a-dia. É a religião que nos orienta no caminho do despertar espiritual. São as nossas crenças, princípios, nossos pontos de vista que nos trazem a segurança de um porto seguro, de onde podemos partir para descobrir o mundo exterior.

No baralho francês o arcano se chama “A Casa de Deus”, ou no original, La Maison Dieu. Popularmente, “Casa de Deus” são as igrejas, se estendendo aos hospitais, asilos e hospícios. Em suma, é onde os feridos encontram amparo. Mais ainda, segundo um antigo mito, ocorreu em tempos imemoriais a separação entre o céu e a Terra e esperava-se que a construção das torres pudesse desfazer o rompimento, restaurando a intercâmbio entre as duas potências primárias. Assim, a Torre é a casa alicerçada sobre princípios divinos e que serve como o local onde o terreno e o divino se encontram.

Mas o arcano nos mostra uma outra realidade. Deus não está em casa. Ele foi expulso de sua própria morada. E quem a tomou foi o personagem do arcano anterior: o Diabo. A Torre, que antes protegia a Deus, agora é morada do segredo, da mentira, do poder, da repressão, da opulência, da vaidade. É a casa bonita por fora mas custosa demais para se manter. É comprar o carro do ano só para se aparecer na frente dos colegas. É o casamento de aparências, o emprego insosso que agüentamos por causa do salário. Ela agora representa o ego inflado, o orgulho de se pretender maior que os demais. Maior até que Deus. Pois não é isto o que Lúcifer sempre pretendeu?

Mas a história não acaba por aí. O Todo Poderoso agora retorna para tomar conta do que é seu. A coroa, símbolo da autoridade mundana, é retirada da cabeça da Torre por um relâmpago estrondoso, pois só assim os que vivem dentro dela conseguirão ouvir sua voz. Segundo o autor desconhecido de “Meditações sobre os 22 arcanos maiores do Tarô”, “aquele que constrói uma torre para substituir a revelação do Céu por aquilo que ele mesmo fabricou será atingido pelo raio, vale dizer, passará pela humilhação de ser reduzido à sua subjetividade e à realidade terrestre”. Desta forma, a Torre simboliza os segredos e mentiras desmascarados, a queda de padrões de pensamento obsoletos, a libertação de situações sufocantes, o rompimento de relações humanas que levam à repressão e ao aprisionamento da alma. O ditado já dizia, “Deus escreve certo por linhas tortas”. Óbvio, esta frase simboliza apenas a ignorância humana diante da forma como o Criador atua no mundo, mas retrata bem a situação em destaque. O relâmpago é, portanto, a providência divina que traz a libertação e aponta para um mundo melhor".

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