domingo, agosto 06, 2006
Homestay
Fomos o Leandro e eu juntos fazer homestay no sabado e no domingo. A familia se chamava Tanaka. O pai tem 54 anos e trabalhana na Mitsubishi. Ele é meio caladão mas gente boa. A mãe tinha 59 anos, toma conta de filhos de mães que trabalham e ajuda no Centro de estrangeiros. Sempre recebe estudantes estrangeiros como eu para mostrar um pouco de como é uma família japonesa. Ela é o contrário do pai. Fala mais que a boca e muitas vezes eu me perdia no que ela estava falando. Tudo bem, já estou me acostumando a não entender tudo o que as pessoas falam. Muitas vezes o essencial são apenas algumas palavras chaves e sabendo isso, é possivel formular uma resposta que tenha a ver com o tópico da conversa. Coisas que estrangeiros entendem bem...
Bom, eles tem um filho da minha idade, qual seja, 27 anos, que trabalha perto de Toquio. Ele é 3 meses mais velho que eu e ainda é solteiro.
Quem realmente nos convidou pro Homestay foi a mãe, então conversamos muito mais com ela. Sábado de tarde e a noite conversamos bastante sobre relacionamentos, casamento, a richa entre japoneses e chineses...incrivel como sempre tenho esbarrado neste tópico...será que tenho algo a aprender também com os chineses??
Bom, a verdade é que nossa conversa foi extremamente útil para conhecer melhor o pensamento dos japoneses. A mãe nos considerava japoneses e muitas vezes falava para nós ficarmos no Japão e vivermos por lá, mais ou menos como uma volta dos que foram ao Brasil.
Ela dava muito valor ao sangue. Disse algo que já tinha ouvido antes, que por mais que tenhamos outra cultura, sempre o negócio do sangue fala mais alto, que, no fundo mesmo, eu não conseguiria fugir à minha raça, minha descendência. Que eu, apesar de ter nascido e crescido no Brasil, sempre teria o lado japonês que fala mais alto.
Eu refutei veementemente sua opinião, claro, com toda a educação que me ensinaram, e disse aquilo em que acredito, que gente é igual em qualquer lugar, seja no Paquistão, no Brasil ou no Japão. Muda a cor da pele, mudam traços físicos, mudam cortes de cabelos, mudam valores, costumes, vestimentas, mas isso tudo é muito superficial perto do que o ser humano é no seu âmago. Como já escrevi antes, todo mundo ama, sofre, sente compaixão, amizade, ódio, raiva. Ninguém escapa disso. E terminei dizendo que acho a experiência racial no Brasil, onde se jogam todos as raças num mesmo caldeirão, ótima para eliminar os preconceitos e diferenças, mesmo que isso de fato ainda não tenha acontecido.
Falei também pra ela algo que estive pensando naquele momento. Que se me perguntassem se eu me achava brasileiro ou japonês eu realmente não saberia dizer. Talvez diria: não sou nem japonês nem brasileiro. Já viajei pra vários lugares percebi que todo mundo é igual, todo mundo veio e vai pro mesmo ralo (desculpem a expressão chula....). Sou um ser humano, igual a qualquer um, igual a um brasileiro ou a um japonês. Sou um cidadão do mundo.
Mas ai então ela me falou que antes também pensava assim, mas com a idade e a experiência ela foi mudando seus conceitos. Como também ouvi essa mesma coisa de minha tia, que na hora do juizo final, na hora H, o sangue fala mais alto, eu não sou burro de descartar completamente isso que ela falou.
Hoje notei algo que talvez puxe para a teoria da sra. Tanaka. Percebi como os jovens nikkeys da minha geração no Brasil, apesar de conhecerem muito pouco da cultura de nossoas ancestrais, continuam fazendo de uma forma ou de outra as mesmas coisas que os japoneses fazem. Quero dizer, apesar de eu e minha geração de descendentes termos nascido no Brasil e absorvido a cultura brasileira, inconscientemente vamos para o mesmo lado, fazemos a mesma coisa.
Notei isso vendo os os grupos de dança que participaram no Festival Uraja, que aconteceu no sábado e domingo aqui em Okayama. As danças que os japoneses gostam são feitas sempre em grupo e todos dançam a mesma coreografia, criando a coisa da organização, da harmonia. Os descendentes de japoneses no Brasil gostam de dançar street dance. Tirando todo o chantilly que cobre o essencial, no fundo é a mesma coisa, um grupo de pessoas dançando juntos uma coreografia, diferentemente dum tango ou um forró que se dança a dois.
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