quinta-feira, agosto 03, 2006

Novos cavaleiros do reino das selvas num Beer Garden no Korakuen



Hoje foi mais um dos meus dias de folga. Lá na escola está acontecendo um evento e meu responsável me falou que não precisava comparecer à escola essa semana, e na semana que vem.
Trabalhei de manha em casa e depois fui almoçar com dois bolsistas novos que ainda não conhecia.
Um é o Danilo, 24 anos, dentista de Bauru e já está estudando aqui faz mais de um ano. A outra bolsista é a Larissa, tem 26 e também é dentista. Ela chegou faz duas semanas em Okayama. Ambos fazem seus estudos na mesma faculdade-hospital, a mesma em que a chinesa Lily faz estágio.
Conheci-os através de uma amiga do Brasil, que também está no Japão como bolsista.
Muito simpáticos, combinamos mais à noite de ir ao Parque Korakuen pois nesta temporada ele fica aberto de noite, e rola umas cadeiras e mesas como um barzinho a céu aberto, bem ao estilo de Sampa. Só faltava o cara na cadeira sem encosto com o violão no colo e tocando umas bossas, MPB...
Consegui juntar toda a família e fomos todos para o Korakuen. Quando digo família, me refiro a Lily, Leandro e Yuka, que são como se fossem meus irmãos aqui.
Hoje fiquei pensando em algo que tenho percebido aqui e que considero importante. Enquanto estou com Lily, Leandro e Yuka, me sinto necessário. Como consigo falar melhor o nihongo e por ser mais velho, acabo sempre organizando os nossos compromissos - a Lily tem 37 anos, mas como ela não fala japonês, a responsabilidade acaba caindo nas minhas mãos. Na verdade, eu tenho de guiá-la. Muitas vezes, eu sou seu intérprete quando ela fala com os japoneses e com a Yuka. Desta forma, sempre me sinto útil, mais participativo, e, consequentemente, me sinto bem por causa disso.
O outro lado, é quando estou na escola convivendo com os estudantes japoneses. Ontem mesmo fui num encontro do pessoal da minha classe promovido por uma professora. Incrível a minha sensação de solidão no meio de tanta gente! Realmente, não saber se comunicar é muito desagradável. Ficava ouvindo as pessoas conversarem e não tinha a mínima idéia do que falavam...
São essas duas situações opostas que tenho convivido estes últimos tempos. Acabo aprendendo com as duas.
Com os bolsistas, tenho trabalhado muito a coisa da liderança, da melhor forma de lidar com cada tipo de pessoa. Acho que tenho me saído bem.
Com os japoneses, acho que tenho aprendido um pouco de humildade, a saber compartilhar, ajudar. Nos momentos em que me sinto só, enquanto eles conversam o japonês sem eu entender, eu penso em como deve ser horrível pra Lily ter de conviver com três pessoas da mesma nacionalidade. Muitas vezes, como somos tres brasileiros e a Yuka não fala inglês, acabamos falando boa parte em português, e sei que isso chateia a Lily. É nessas horas em que estou com os japoneses que dou valor àquelas pessoas de coração mais caloroso que vem me ajudar, sendo pra me explicar o que estão falando ou apenas para trocar uma uma conversa comigo. Me sinto como um deficiente. Acho que só um deficiente sabe aqueles que realmente tem um coração bom, um espírito mais elevado, pois estes são os únicos que se aproximam para compartilhar o que tem. Ele realmente sabe quem são os egoístas e quem não são. Ou talvez consiga distinguir melhor, pois sei que há muita gente que ajuda para proveito próprio e não com sentimento de ajudar o próximo.
Sinto como se estivesse tentando achar o equilíbrio naquelas balanças de dois lados.
Uma puxa para seu lado, cada uma com coisas valiosas para me ensinar mas sempre na medida certa, pois se for exagerado, pode cair e derrubar tudo. Difícil a tarefa, não posso dar uma relaxada, mas acho que tenho aprendido bem.

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