domingo, julho 30, 2006

Um chinelo de dedo de madeira



O guetá é a sandália tradicional japonesa. É basicamente um chinelo de dedo. Sua base é feita de madeira, mais ou menos uns 7 cm de espessura. A parte que segura o pé é feita de tecido de algodão, mas já vi de sintéticos também.
Enquanto segurava nas mãos o guetá, percebi uma beleza nas texturas dos materiais, os desenhos japoneses no algodão, a textura rústica da madeira. Outra coisa que percebi: o guetá era simétrico, ou seja, não dava para diferenciar o pé direito do esquerdo.

Mas calçando-o percebi que por ser tão simétrico, o pé acabava ficando torto. O tecido que divide o dedo polegar do pé do resto dos dedos fica preso exatamente no centro da madeira, diferentemente de uma havaiana comum, que é mais ergonômica.
Outro ponto importante, como a base de madeira, depois de um tempo ele fica extremamente desconfortável. Muito duro. Palmilha é algo que os antigos realmente não conheciam.

Pensando nisso, fiquei a me perguntar se esse exemplo talvez não mostrasse um pouco da personalidade do japonês, muito preocupado com a forma e não com o conforto. Eles dão extrema importância à polidez, à elegância, à gentileza. São um povo pacífico, odeiam brigas, odeiam se opor, criar polêmicas, controvérsias. Não gostam de serem o centro das atenções. Por causa disso, trabalham muito bem em grupo, por seguirem sempre o centro o que os torna unidos.

Isso, no meu ponto de vista, tem seu lado positivo mas também seu negativo. O que ouço muito dos estrangeiros que vivem em Okayama é que os japoneses são muito polidos, mas não se sabe o que eles realmente estão pensando. Estão sempre sendo educadíssimos, sempre sorridentes, mas é como se isso tudo não fosse o real sentimento, como se estivessem usando máscaras. E isso é nítido em qualquer lugar, num supermercado, numa loja, em um bar, andando nas ruas. Claro que tratar bem os clientes numa loja é regra em qualquer lugar do mundo, mas aqui é ao extremo.

No entanto, é obvio que isso não se resume a todos. Encontro aqui todos os dias pessoas verdadeiramente polidas, simpáticas, gentis por natureza. Que possuem um espírito de liderança muito forte. Tal como neste domingo, enquanto assistia a um treino do grupo de dança Sawara. A líder do grupo era uma mulher daquelas que não podia deixar de admirar. Tinha mais ou menos uns 33 anos, 1,60 cm de estatura, magra, pele alva como todas as japonesas. Foi estudar na Austrália durante um ano. Dançava muito, mas muito bem. Movimentos e voz firmes, sem no entanto perder a feminilidade. Não tive muita oportunidade de conversar com ela mas em tudo em que fazia se mostrava uma líder.

4 comentários:

Fabio Jun disse...

Mais uma vez você está totalmente certo, meu amigo...cada vez mais percebo que as pessoas são iguais em qualquer parte do mundo. Países com culturas tão diferentes como Brasil e Japão, mas que em certos aspectos parecem tão iguais...qualidades e defeitos existem em qualquer sociedade.
Pode ser primeiro, segundo ou terceiro mundo, todo mundo está no mesmo barco.

PS: So muito mais minhas havaianas...nesse ponto o Brasil não tem pra ninguém!! rs

Fabio Jun disse...

Sobre a garota do link, já fiquei com ela uns tempos atrás, mas depois que eu dei um fora nela ela desapareceu...q bom que ela está bem e feliz! hahaha

Abraço irmão...

siusi disse...

usei 2 linhas do seu texto, e coloquei seu link, ta, aqui
http://siusi-cor.blogspot.com/2010/06/japonismos.html
se vc nao quiser, ´e so dizer, obrigada siu

Anônimo disse...

Olá! EStou procurando um post onde vocÊ escreveu sobre um ditado budista/xintoísta. Falava sobre alinhar os sapatos ou serenar a mente. Acompanhava o seu blog, e deparei com ele novamente através d euma pesquisa sobre Japão.
Não estou conseguindo localizar o tal post. Agradeceria muito se pudesse me responder. Lina